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Dentro de escassos dias celebra-se uma data assinalada em todo o mundo. Este vai ser o primeiro aniversário de Mandela depois do seu desaparecimento físico. Mais do que antes, lembrar quem foi este grande homem reveste-se de particular significado. Por isso fomos buscar uma passagem do livro "Obrigado Madiba", de Abílio Soeiro, em que se descreve como foi comemorado o seu aniversário em Maputo, quando Nelson Mandela completava 82 anos de idade.
"Eu estava lá a convite de Graça Machel, para ajudar a organizar o almoço de apresentação da sua nova casa em Maputo. Mas a ocasião servia também para assinalar os 82 anos de Mandela, já completados no dia 18 de Julho daquele ano.
No dia da inauguração da nova casa, recebi as primeiras tarefas. Entre elas, fui incumbido de ir ao aeroporto receber os familiares de Nelson Mandela que chegavam nessa manhã, vindos da África do Sul. O avião que transportava os seus filhos, netos e bisnetos chegou a Maputo às 10:15 horas. Tratava-se de um voo especial.
Os familiares foram recebidos numa área privilegiada do aeroporto destinada a passageiros que desejem serviços especiais de apoio e comodidades, o Salão CIP. Aí tomaram um pequeno-almoço ligeiro. Em seguida foram de autocarro até à Costa do Sol, uma das mais conhecidas e populares praias de Maputo. Muitos deles nunca tinham visto o mar e era preciso dar-lhes essa alegria – principalmente aos mais novos. Dessa forma ganhava-se tempo para os últimos arranjos na casa a inaugurar. A ida à praia daria igualmente para se acabar de preparar o almoço para os muito ilustres convidados que se esperavam.
Quando os familiares finalmente chegaram à nova casa, foram todos cumprimentar Madiba. Este recebeu-os com grande afabilidade, mas mostrou-se particularmente alegre ao ver os seus netos. Mesmo depois de todos os outros se terem retirado e dispersado pela casa e jardim, Madiba ficou com os mais pequenos, conversando e brincando com eles por mais algum tempo. Ouviu com muita atenção e alegria as estórias que eles traziam para lhe contar e os seus progressos escolares, bem como a recente aventura de terem chegado a Maputo de avião e terem ido ver o mar e as areias muito brancas da Costa do Sol.
Momentos antes do almoço choveu durante uns dez minutos. Como não era habitual nessa altura do ano, o facto foi interpretado como sendo uma bênção africana. Não sei se foi ou não. A verdade é que a chuva atrasou o início da cerimónia em cerca de meia hora, tendo provocado alguma correria entre os convidados que procuravam abrigar-se. Mas também é verdade que a chuva parou completamente até ao fim da tarde.
Houve uma questão que nos preocupou, a mim e à minha mulher, nos dias que antecederam esta cerimónia: nós íamos estar presentes também como convidados e, portanto, o que oferecer a uma figura tão especial como Nelson Mandela? A Lola sugeriu que se mandasse fazer um bolo de aniversário muito simples, tendo apenas a característica invulgar de ser ornamentado com uma garrafa de champanhe e dois copos de cristal para serem utilizados pelo casal. Foi isso que fizemos e foi assim que, na mesa de honra, o bolo que a Lola idealizara ocupou um lugar de destaque. Antes de ser servido o almoço, Madiba cortou uma fatia de bolo que ofereceu à sua esposa Graça Machel, brindando à felicidade de todos os convidados presentes.
Durante o almoço serviram-se vários pratos. Como era de esperar, o que mais agradou foi o camarão e a matapa. Tratando-se de uma cerimónia familiar, não poderia faltar a carne de vaca no espeto, que é uma tradição da família Machel. Não faltou também a carne de cordeiro, que é uma tradição tanto da família Mandela como da família Machel.
Por duas razões muito diferentes, senti uma certa tristeza ao ver aproximar-se a hora de levar ao aeroporto os familiares de Madiba. Em primeiro lugar porque dizer adeus é sempre triste. Depois, porque Madiba estava a tirar fotografias com os convidados presentes na festa e eu não poderia participar nessa sessão.
Cerca de duas horas depois, já de volta à residência, quando todos os convidados se haviam retirado e apenas a família e o grupo que organizara a festa estavam presentes, a minha esposa segredou-me, com um grande sorriso, que tinha tido o privilégio de tirar uma fotografia com Madiba e Graça Machel. Uma vez mais, um sentimento de tristeza assaltou-me ao me aperceber que tinha perdido essa oportunidade.
Por saber da tarefa que me tinha sido incumbida, Graça Machel fez questão que ficássemos para o jantar, uma vez que já era noite. Isto acabou por me proporcionar a tão almejada fotografia com Madiba.
O dia tinha sido pródigo em emoções e nós estávamos todos cansados. Depois do jantar limitámo-nos às despedidas. Saímos dali com a sensação de termos privado com pessoas que tinham assumido importantes papéis na História do meu país, de África e do Mundo, e que, apesar disso, tinham sido capazes de se manter afáveis, cheias de consideração e respeito pelos outros."